Dentes e espinal medula

Os dentes podem possuir a chave para ajudar as vítimas de lesão na medula espinal a voltar a andar!

João Alves


Investigadores Universidade de Nagoya, no Japão conseguiram regenerarar a medula espinhal de ratos adultos que tinha sido seccionada e recuperar a função locomotora das patas traseiras, a partir de células estaminais obtidas da polpa dentária humana.

A investigação liderada por Minori Ueda, foi publicado no The Journal of Clinical Investigation.

As células estaminais de origem dentária têm o potencial de se diferenciar em células de medula óssea, de cartilagem, adiposas e também em neurónios funcionais, em condições especiais in vitro.




Noutros estudos pré-clínicos de regeneração da medula espinal de ratos com células estaminais de origens diferentes (incluindo células estaminais humanas de origem neural, embrionárias e da medula óssea) obteve-se uma recuperação funcional substancial, mas com uma baixa taxa de sobrevivência e ou diferenciação nas condições adversas da medula espinal lesionada, tendo sido o benefício terapêutico ganho reduzido.

É importante lembrar que são necessários vários tipos de células nervosas para se recuperar a função sensorial e motora após uma lesão medular.

A patofisiologia do dano na medula espinal é um processo multifactorial, em que, na fase aguda ao sofrer uma agressão mecânica focal (por corte ou trauma agudo na coluna), há um estímulo de processos secundários de agressão, e múltiplas cascatas destrutivas causam a necrose e apoptose secundária de Neurónios, Astrócitos e Oligodendrócitos, para além da desmielinização progressiva que é estimulada peri-lesão.

Figura 1 - Confocal visualization of ectopic proteolipid protein (PLP) in cultivated oligodendrocytes with an EGFP-tag (in green) and an intracellular marker (in red).

Figura 2 - Astrócitos

Por isso, estratégias terapêuticas para uma recuperação funcional de lesão na medula espinal têm que ser capazes de exercer múltiplos efeitos reparadores numa patogénese muito variada.

Os investigadores extrairam as células estaminais da polpa dentária de dentes decíduos e de terceiros molares definitivos (dentes do siso)






As células estaminais dos dentes humanos encontram-se na polpa dentária dos dentes



A polpa dentária tem uma origem embriológica comum às células nervosas.



Os investigadores começaram por ver se as células estaminais de polpa dentária se conseguiam diferenciar in vitro em células nervosas, ou seja se expressavam vários fatores que são caraterísticos dessa linhagem de células.

Uma vez confirmado que as CT da polpa dentária expressavam fatores característicos de diferentes células neurais elas foram transplantadas em ratos imediatamente após esses terem sido submetidos a uma secção total da medula espinhal

Figura 3 - DPSC colonies

Para verificar se os resultados dependiam das propriedades das células estaminais da polpa dentária e não da metodologia usada, os investigadores usaram como controle dois grupos de ratos submetidos ao mesmo método: no primeiro grupo injetaram células estaminais da medula óssea e no segundo fibroblastos.
Os ratos que tinham recebido as células estaminais da polpa dentária apresentaram uma recuperação muito superior à observada nos grupos de ratos injetados com os outros tipos de células estaminais.
Essa melhoria foi observada logo após a operação, durante a fase aguda da lesão medular.

Cinco semanas após o transplante, os ratos que receberam células estaminais da polpa dentária foram capazes de locomover as patas traseiras de modo coordenado, enquanto os dois outros grupos só conseguiram realizar movimentos subtis.

O facto dos animais conseguiram recuperar os movimentos sugerem que as células estaminais derivadas da polpa dentária também foram capazes de promover a regeneração dos axonios, e dendrites da dos neurónios.

As células estaminais derivadas da polpa dentária mostraram uma capacidade neuroregenerativa significativa quando injetadas em ratos imediatamente após a secção da medula espinhal .

Após lesão da medula espinal houve inibição da necrose e apoptose dos neurônios e oligodendrócitos regeneração dos axonios e substituição de oligodendrócitos lesionados por oligodendrócitos maduros funcionais.

Os investigadores reconhecem no entanto que estes resultados só foram obtidos imediatamente após a secção total da medula – o que certamente não poderá ser avaliado em seres humanos – e não sabemos quais seriam os resultados em diferentes lesões da medula.

Comprovado por este estudo e muitos outros que foram e estão a ser desenvolvidos são as propriedades promissoras das células estaminais da polpa dentária.

Como tal já existem várias empresas que possibilitam o armazenamento destas células, tal como se faz para as células estaminais de origem embrionária derivadas do cordão umbilical.

Quem sabe o que o futuro nos reservará?


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