Epónimos

O passado da Histologia
Pedro Pereira

...e como o futuro não é tudo, este trabalho destaca alguns dos primeiros epónimos a serem utilizados na Medicina, e em particular na Histologia, assim como algumas breves notas biográficas dos seus autores. 

Barthalomeo Eustachi (1500-1574), anatomista italiano nascido em San Severino, Marche, próximo de Roma, foi um dos fundadores da moderna anatomia, famoso pelas suas descrições sobre o ouvido e o coração humanos. 
Instalado em Roma, a partir de várias dissecações fez várias descobertas e descrições de muitas formas da anatomia humana. Descreveu a trompa de Eustáquio no seu esplêndido livro manuscrito Tabulae Anatomicae (1552), que liga o ouvido médio à faringe e a válvula na embocadura da veia cava inferior, a válvula de Eustáquio, no coração. 
Trompa de Eustáquio
O livro ficou esquecido por 150 anos na Biblioteca do Vaticano e foi publicado (1714) pelo cardiologista Giovanni Lancisi. Nesse livro, além de apontar erros no livro de Andréas Vesalius, De Humani Corporis Fabrica, libri septem (1543), também fez observações negligenciadas por Vesalius, descrevendo corretamente o rim humano, a glândula suprarrenal e a trompa que se viria a chamar de Eustáquio. Professor de anatomia em Roma, escreveu ainda Opuscula Anatomica (1564). 



Gabriele Fallopio (1523-1562) foi um anatomista e cirurgião italiano. 
Estudou medicina em Ferrara onde se tornou professor de anatomia e posteriormente em Pisa e em Pádua, onde trabalhou com Andreas Vesalius. 
Trompa de Falópio
Fallopio descreveu a chorda tympani (o ouvido interno), as trompas de Falloppio (órgão do aparelho genital feminino que leva os óvulos do ovário ao útero) e o ligamento de Falloppio (inserido na espinha do púbis e na espinha ilíaca antero-superior). Atribuiu nomes aos tubos do ovário, à vagina, à placenta, aos músculos da testa e à língua. Foi também o criador do preservativo masculino, criado com a finalidade protetora de doenças sexuais, em 1564. 




Geleia de Wharton
Thomas Wharton (1614-1673) médico e anatomista britânico que descreveu as glândulas e fez pesquisas sobre sua natureza e utilização. Descobriu o ducto da glândula sub-mandibular, que participa no envio da saliva para a cavidade oral e estudou ao pormenor a anatomia do pâncreas. Encontrou uma substância gelatinosa no cordão umbilical – geleia de Wharton. 






Camada de Malpighi
Marcello Malpighi (1628-1694) - foi um médico, anatomista e biólogo italiano. Foi pioneiro na utilização do microscópio, sendo considerado por muitos como um dos fundadores da fisiologia comparativa e da anatomia microscópica. Várias estruturas fisiológicas foram nomeadas em sua homenagem, como o corpúsculo de Malpighi (nos rins humanos), os túbulos de Malpighi (sistema excretor de alguns invertebrados) e a camada de Malpighi (conjunto da camada basal e espinhosa da epiderme). Descobriu ainda as papilas gustativas e os capilares sanguíneos. 




Folículo de de Graaf
Regnier de Graaf (1641-1673). Médico holandês. Ainda como estudante, foi o primeiro a obter a secreção pancreática. Através da abertura do duodeno de um cão, conseguiu cateterizar o ducto de Wirsung com a haste oca de uma pena e obteve suco pancreático puro. Até então desconhecia-se a função do pâncreas, considerado apenas como um orgão de suporte para o estômago. A experiência de Graaf da fístula pancreática só foi repetida por Claude Bernard no século XIX. 
Estudou posteriormente com detalhe a anatomia dos órgãos sexuais masculinos e femininos e descreveu o fenómeno da ovulação e os folículos ovarianos que contêm os óvulos em fase de maturação, hoje conhecidos como folículos de Graaf, conforme a denominação dada por Haller em 1730. 


Ductos de Bellini
Lorenzo Bellini (1643-1704). Médico e anatomista italiano, nasceu em Florença em 3 de Setembro de 1643. Aos vinte anos de idade já tinha iniciado as suas pesquisas sobre a estrutura dos rins e tinha descrito os ductos papilares (também conhecido como ductos de Bellini), conforme publicado no seu livro Exercitatio Anatomica de Structura Usu Renum (1662). Depois de passar trinta anos em Pisa, ele foi convidado para Florença e nomeado médico do grão-duque Cosimo III, e também médico sénior de consultoria do papa Clemente XI. 



Clopton Havers (1657-1702) foi um médico inglês pioneiro na investigação da microestrutura do osso. Foi o primeiro a observar e a descrever o que são agora chamados de sistemas e canais de Havers e fibras de Sharpey. 





Glândulas de Brunner
Johann Conrad Brunner (1653-1727) era um anatomista suíço de Diessenhofen.  Estudou medicina em Schaffhausen, Estrasburgo e Paris. 
Brunner é recordado pelas suas experiências e estudos do pâncreas e secreções internas associadas a este órgão. Em 1683, removeu o pâncreas de um cão e percebeu que o animal experimentou extrema sede e poliúria. Foi no entanto incapaz de estabelecer uma ligação entre o papel do pâncreas e a diabetes. Em 1687 descreveu glândulas tubuloalveolares na camada submucosa do duodeno, que foram mais tarde chamadas glândulas de Brunner. 

Corpúsculo de Vater-Pacini
Abraham Vater (1684-1751) foi um anatomista alemão de Wittenberg. É conhecido principalmente pelo seu trabalho em anatomia, mas também publicou trabalhos sobre química, botânica, farmacologia e ginecologia. Foi o primeiro a descrever a ampola hepatopancreática, que é a junção do ducto pancreático e do colédoco, atualmente denominada ampola de Vater. Em 1719, Vater foi o primeiro a observar estruturas ovalizadas compostas por camadas concêntricas de tecido conjuntivo envolvendo as terminações nervosas na pele, e chamou-lhes nervae papilas. Aparentemente, a sua pesquisa foi esquecida, porque em 1831 estas estruturas foram redescobertas pelo anatomista Filippo Pacini (1812-1883) durante a execução de uma dissecção de uma mão. Pacini foi o primeiro a descrever a sua funcionalidade como mecanorreceptores que são sensíveis a alterações de vibração e de pressão. 

Criptas de Lieberkuhn
Johann Nathanael Lieberkuhn (1711-1756) foi um médico alemão muito conhecido pela sua preparação de amostras médicas, preparadas principalmente com recurso a injeções de cera em diversas cavidades do corpo, criando formas relativamente duráveis. Observou pela primeira vez, as agora denominadas criptas de Lieberkuhn (glândulas intestinais). Além disso, Lieberkühn produziu instrumentos ópticos, desenvolvendo o microscópio de luz. 
Membrana de Descemet



Jean Descemet (1732-1810), médico francês que, observou pela primeira vez uma membrana que se situava junto à camada endotelial da córnea. Mais tarde viria a ser conhecida como membrana de Descemet, mas também é conhecida como lâmina posterior limitante e lâmina elástica posterior. 





Johannes Purkinje (1787-1869) fisiologista e histologista checoslovaco, licenciou-se, aos 32 anos de idade, em Medicina, na Universidade de Praga, tendo sido nomeado, professor de Fisiologia naquela universidade. Como resultado dos estudos que realizou para o seu doutoramento, Purkinje publicou Observations and Experiments Investigating the Physiology of Senses e, em 1825, New Subjetive Reports about Vision. Johannes Purkinje ficou conhecido sobretudo pela descoberta das células de Purkinje, em 1837, células nervosas de grandes dimensões, muito ramificadas, encontradas no córtex cerebeloso. 
Células de Purkinje no cerebelo
Foi autor do conhecido  Efeito de Purkinje, que descreve um fenómeno relacionado com a perceção dos objetos e a intensidade da luz; estudou o tecido fibroso responsável pela condução do impulso elétrico cardíaco; foi o primeiro cientista a utilizar, na preparação de tecidos simples para observações microscópicas, o micrótomo, o ácido acético glacial, o bicromato de potássio e o bálsamo de Canadá; descreveu o efeito, nos seres humanos, da cânfora, do ópio e da beladona; e introduziu os conceitos de "plasma" e "protoplasma". Johannes Purkinje foi um pioneiro na fisiologia experimental e todas as sua investigações - em áreas como a histologia, embriologia e farmacologia - contribuíram para uma melhor compreensão do funcionamento do olho e da visão, do cérebro e do coração, da reprodução nos mamíferos e da composição celular. 


Canal de Schlemm
Friedrich Schlemm (1795-1858) era um anatomista alemão que foi professor na Universidade de Berlim. Era conhecido pelos seus estudos patológicos em cadáveres. Foi o primeiro a descobrir os nervos da córnea do olho, que descreveu pela primeira vez em 1830. O seu nome foi adotado para o canal de Schlemm, que é um canal do globo ocular que recolhe o humor aquoso da câmara anterior. 





Alfred Wilhelm Volkmann
(1801-1877) foi um fisiologista alemão, anatomista e filósofo que se especializou no estudo dos sistemas nervoso e óptico.  Nascido em Leipzig, onde também foi aluno e professor de fisiologia e patologia. A sua maior descoberta foram canais de vasos sanguíneos no tecido ósseo, estes perpendiculares aos de Havers. 





Friederich Gustave Jakob Henle (1809-1885) era um médico patologista e anatomista alemão. A ele se deveu a descoberta do ansa de Henle no rim. Em 1855 publicou o primeiro volume do seu Manual de Anatomia Humana; este trabalho foi talvez o mais completo e abrangente do seu tipo na época, e foi notável não só pela plenitude e pela pequenez das suas descrições anatómicas, mas também pelo número e excelência das ilustrações de, vasos, membranas serosas, rins, olhos, unhas, e sistema nervoso central. Ainda foi responsável pela descoberta das criptas de Henle (bolsas microscópicas localizadas na conjuntiva do olho), os corpos Hassall-Henle (estruturas transparentes na periferia da membrana de Descemet do olho), fissura de Henle (tecido fibroso entre as fibras musculares cardíacas), ampola de Henle (ampola da trompa uterina), camada de Henle (camada externa de células da bainha da raiz de um folículo piloso), ligamento de Henle (tendão do músculo transverso do abdómen), membrana de Henle (camada de Bruch interna que faz fronteira com a coróide do olho), a bainha de Henle (tecido conjuntivo que envolve as fibra nervosas individualmente), e a espinha de Henle (situada na superfície do osso temporal). Henle ainda desenvolveu o conceito de contágio; Robert Koch foi seu aluno. 

Célula de Schwann
Theodor Schwann (1810-1882) foi um fisiologista alemão. Co-fundador, com Matthias Schleiden, da teoria celular e neonuclear. Schwann estudou medicina na Universidade Humboldt de Berlim, onde descobriu e preparou a primeira enzima de um tecido animal: a pepsina (uma das enzimas digestivas). Estudou a fermentação do açúcar e do amido enquanto processos biológicos, as propriedades e o funcionamento dos músculos e as células nervosas. O estudo destas últimas levou-o à descoberta das chamadas células de Schwann. Foi também o criador do termo "metabolismo" para designar os processos químicos de um organismo biológico. Foi responsável, também, por importantes contribuições na área da embriologia, ciência que praticamente fundou, ao estudar o desenvolvimento da primeira célula resultante da fecundação - o ovo - até à formação de um organismo completo. 



Filippo Pacini
(1812-1883) era um anatomista italiano, famoso postumamente por isolar o bacilo da cólera Vibrio cholerae em 1854. 
Durante a sua carreira Pacini também publicou vários estudos sobre a retina do olho humano, os órgãos elétricos em peixes elétricos, a estrutura do osso, e os mecanismos da respiração. 





Cápsula de Bowmann
Sir William Bowmann (1816-1892) era um cirurgião, oftalmologista, histologista, e anatomista inglês. Famoso pelas suas pesquisas usando microscópios para estudar vários órgãos humanos. A sua primeira descoberta foi a estrutura dos músculos estriados. Aos 25 anos, ele identificou o que então ficou conhecido como a cápsula de Bowman, no nefrónio. Foi ainda responsável pela descoberta das glândula de Bowmann (na mucosa olfactiva) e pela membrana de Bowmann (na córnea).

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